Pegadas de Jesus

Pegadas de Jesus

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

FILOSOFANDO...


Minha alma, quase sempre, é um regato, de águas claras e serenas, que desliza suavemente no leito da vida... Mas, por vezes, se depara com barreiras, com elevações, e suas águas se turvam, embaciam... Todavia, não fica estagnada, e mesmo enlameada, procura contornar os obstáculos. É a dinâmica da minha vida. 

(Socorro Melo).


quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

O CIRCO

Quando eu entrei no Circo, já passava trinta minutos das quinze horas. O espetáculo começaria às dezesseis. Era a primeira vez que eu ia ao Circo, e estava ansiosa demais. Ganhei o ingresso na Escola, e, com a permissão de minha mãe, fui, sozinha. Meu irmão também ganhou ingresso, mas, ele se antecipou, não quis me esperar, penso que por ansiedade, para ver logo as novidades do Circo. Sentei-me nas arquibancadas superiores, na geral, no lugar mais distante do picadeiro, mas, parecia-me que estava nos primeiros lugares. O espetáculo começou, e vi, deslumbrada, os shows de contorcionistas, malabaristas, palhaços, dançarinos, trapezistas e domadores de animais, se desenrolarem em meio às luzes coloridas, ao brilho das fantasias e aplausos do público. Tudo superara minha expectativa: o Circo era bom demais. Quase perdi o fôlego, de tão angustiada que fiquei, vendo os artistas do trapézio empreendendo vôos belíssimos e ariscados, numa harmonia  incrível, arrancando ovações do público. Deduzi, sem delonga, que ser artista de Circo, não era nem de longe, a minha vocação. Fui sozinha, como disse. No tempo da minha infância, em cidades do interior, criança podia andar sozinha. Não havia sequestros, pedófilos, nem a quantidade de carros e motos, congestionando o trânsito, e tornando-o tão caótico, como hoje. A figura que mais amedrontava as crianças, era o bicho papão, o papa-figo, personagem folclórico que simbolizava o mal, pois, mesmo em escala muintíssimo menor, ele existia. O mágico, o último a se apresentar, deitou e rolou. Fiquei impressionada, por muitos dias, pensando em como ele fazia para cortar a moça ao meio, e ela sair ilesa, com tudo acontecendo diante de nossos olhos. E o atirador de facas? Sem comentários, quase tive um enfarto. Curioso é que apesar da minha pouca idade, algo me dizia que tudo não passava de mentira, e eu nem conhecia a palavra ilusão, de ilusionismo. Não sei se tudo isso deu um nó na minha cabeça, ou se foi pura coincidência, só sei que às dezoito horas, o espetáculo terminou, e saí do Circo no meio de uma multidão sorridente, por um caminho iluminado, ao som de música animada. Quando pus os pés fora do Circo, vi que já era noite. O céu estava estrelado, sem nuvens, era uma noite de verão. Tudo estava perfeito, quando me dei conta de que estava ariada. Ariada? Sim, desorientada, perdida, sem saber que rumo tomar, como voltar pra casa. Eu via as ruas, umas e outras, tão conhecidas minhas, mas, não sabia onde estava, para que lado me dirigir, e deu-me um desespero como nunca havia sentido. Nas imediações do Circo já não se via tanta gente, e aquilo aumentava o meu temor. Será que vou ter que dividir a jaula com o leão? E nada de a mente voltar à realidade. Eu estava ali, num local conhecido, mas não sabia onde estava... que coisa! Aí, de repente, aparece o meu irmão, que saía do Circo (penso que ele foi o primeiro a entrar e o último a sair), e me salvou a pátria. E pensar que eu nem comentei com ele o que acontecia. Fiz de conta que estava tudo bem e saímos juntos para casa. No íntimo eu estava agradecida a ele, por ter aparecido naquela hora tão necessária. O que achei, e ainda acho fenomenal, é que depois de andar no máximo dois metros, em companhia de meu irmão, me orientei (desariei). Interessante!

(Por Socorro Melo)

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

UMA CRIANÇA, UMA LÁGRIMA, UM LENÇO...

Saí da Escola apressada, e andei a passos largos, quase correndo, em direção à Prefeitura. Era quase meio dia. Sentia fome e calor, mas estava determinada a atingir o meu objetivo. Olhei mais uma vez para dentro da bolsa, a fim de me certificar de que a carta estava lá. Minutos depois, cruzei o limiar da porta principal, do prédio da Prefeitura, e segui em direção ao Gabinete do prefeito. Àquela hora, todos os dias, ele despachava.

A porta do Gabinete ainda estava trancada, e o rol à frente, estava repleto de gente, todos adultos. Alguns me olhavam de soslaio, como a imaginar o que eu estaria fazendo ali, num lugar de gente grande. Eu sentia meu corpo tremer, de nervosismo. Mas era preciso. E quando precisamos, dizia minha mãe, devemos ser humildes, e buscar o que queremos sem medo e sem vergonha.

A porta se abriu. O povo avançou, e por breves instantes, se fez um pequeno tumulto. Todos queriam salvaguardar um bom lugar, próximo à mesa do prefeito, para garantir atendimento rápido. Quase me atropelaram. Rodopiei no meio da confusão, mas, por fim, saí ilesa, e me juntei aos demais, bem atrás do aglomerado que se formou.

As horas passavam rapidamente. A fome aumentava. E angustiava-me saber que depois de tudo, precisava caminhar uns três quilômetros para chegar em casa, num escaldante sol de verão, bem nordestino.

O prefeito despachava junto aos adultos que, às vezes, saíam satisfeitos, outras, saíam contrariados, mas, todos eram atendidos, um por um. Era tudo muito lento, a meu ver. Por um momento pensei em desistir, sair dali correndo, ir para casa descansar, comer , mas, o senso de responsabilidade, aliado à necessidade, me obrigaram a ficar, quietinha, aguardando a minha vez.
Quando eu começava a me aproximar da mesa, achegava-se um adulto, e passava à minha frente, e eu, indefesa e humilhada, ia ficando para trás. A fome e a sede estavam me torturando, e sem querer, comecei a chorar baixinho, mas, percebendo o meu erro, sufoquei as lágrimas, e limpei os olhos com as costas das mãos.

Neste momento, num vão por entre as pessoas, o prefeito me viu, e perguntou aos presentes, de quem era aquela criança. Ninguém respondeu, apenas balançaram a cabeça negativamente. O prefeito pediu que as pessoas abrissem passagem, e me chamou para junto de si. Pediu que a secretária me trouxesse um copo d’água e com um lenço enxugou uma lágrima que teimosamente caía dos meus olhos.
Perguntou a que vim, e eu, toda trêmula, entreguei-lhe a cartinha que eu mesma tinha feito, mas que assinara como se fosse minha mãe, pedindo ajuda para comprar os livros da 5ª série.

Minha mãe me advertira que eu só iria estudar até a 4ª série, pois que não tinha condições de me manter na Escola. Apesar de ser Escola pública, o material não era doado, como nos tempos atuais. Os livros adotados eram muitos, e caros, e tornou-se um grande empecilho, e um grande desafio. Mas tanto insisti que ela me permitiu estudar por mais um ano.
Ela teve a idéia de pedir ajuda na Prefeitura, com a condição de eu mesma ir lá, entregar a sua carta, pois, na ocasião ela tinha crianças pequenas e não podia sair de casa. E eu fui, apesar de tímida, e de insegura, mas, nada era mais importante para mim, do que permanecer na escola.

O prefeito desdobrou o papel que eu lhe entregara, e leu demoradamente. A espera foi cruel. Às vezes me olhava, depois voltava os olhos para o papel, e assim sucessivamente, por minutos que pareceram eternos, dado o meu nervosismo incontrolável.

Perguntou-me, enquanto dobrava a carta, onde eu morava, e sobre meus pais, se trabalhavam, e ouviu atentamente minhas respostas, que saíam entre lágrimas. Deu-me outro lenço. Pediu-me para não chorar, e disse que atenderia o meu pedido.
Apanhou um talão em cima da mesa e pôs-se a escrever, depois destacou a folha em que escrevera e assinou, carimbou, e me disse que fosse à Livraria receber meus livros, todos eles, que eram em número de oito a nove.

Eu agradeci, e quando ia me retirando, ele me chamou de volta, e disse-me que a porta do seu Gabinete estaria sempre aberta, e que eu voltasse, sempre que precisasse. Que admirava crianças e jovens esforçados, que lutavam com afinco para garantirem seu lugar ao sol. Olhou para os presentes que estavam calados, e citou-me como exemplo. Apertei sua mão, como faziam os adultos, agradeci, e saí alegre, saltitando, sem sequer me lembrar da fome, ou do calor, e mesmo dos três quilômetros que iria andar à pé. Teria meus livros. Quanta felicidade!

Rumei para casa sorridente, levando a autorização na bolsa, como se fosse um troféu. Sim, em parte era um troféu, pois, era o resultado da minha luta interior, contra o medo, a humilhação, a timidez, o desconhecido mundo de gente grande. No outro dia, eu ficaria com as crianças, e minha mãe iria pegar os livros, todos novinhos. Parecia um sonho.


A perseverança me fez avançar, e consegui terminar meus estudos, me formar, me profissionalizar... Cresci, venci muitos desafios, tornei-me cidadã, mas, nunca me esqueci do gesto nobre do prefeito. E sempre tive por ele um grande respeito, não somente pela minha experiência, mas também pelo homem público que ele foi, honrado e cumpridor dos seus deveres, por vários mandatos consecutivos, no Legislativo e no Executivo Municipal (como hoje infelizmente não se vê). Quando adulta, tive oportunidade de agradecer-lhe pessoalmente, e o fiz com grande emoção, e percebi o quanto foi importante para ele ter esse retorno. Ele não se encontra mais neste mundo, já fez sua passagem, mas, o seu exemplo e a sua memória, são dignos de nota. Um homem de bem, um homem da luz.

(Por Socorro Melo)

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

APAIXONADA

Quando estamos apaixonados, passamos a olhar o mundo de forma diferente: Tudo é belo, tudo tem novo sentido. Quando amamos, o ser amado torna-se o centro de nossas vidas, e de nossas conversas. Nada, e nenhum assunto é mais atrativo. É por isso que vos falo tanto de Deus. 

(Socorro Melo).