Pegadas de Jesus

Pegadas de Jesus

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

UMA MENSAGEM PARA M... VOCÊ FAZ?


Eu acabara de ler uma mensagem de Natal dirigida aos presentes na celebração. Uma mensagem bonita, mas  da qual não fui autora. Terminada a Santa Missa, uma senhora aproximou-se de mim dizendo que queria falar comigo. Fiquei surpresa, pois, apesar de conhecê-la, não temos convívio.

Num cantinho à parte, ela me disse: que mensagem linda a que você leu. Queria lhe pedir que fizesse uma mensagem de aniversário para o meu filho, que completa anos no dia de Natal. Você pode me fazer essa gentileza? E eu respondi: posso sim. Qual é o nome dele? E o que a senhora gostaria de dizer-lhe? E ela bastante efusiva disse: o seu nome é M... e eu gostaria de dizer-lhe que o amo muito, muito, muito... escreva isso pra ele.

Para alguns, esse recado da mãezinha de M... pode parecer banal, pois, ouvimos tanto se falar sobre o amor. Para mim ele tocou profundamente, pois, sei o que é o amor de mãe, o quanto é verdadeiro, e o quanto é urgente para cada uma de nós fazer entender aos nossos filhos o nosso amor. Mãe não precisa dizer mais nada. Mãe dá a vida por amor e sabe cuidar da vida que criou.

Fiquei pensando no quanto M... é felizardo, por ser tão amado. Ele tem tudo o que alguém precise para ser feliz.

E pensando nisso, com muito respeito por aquela senhora, enlevada pelo seu gesto simples e bonito, fiz a mensagem para M... Coloquei-me no lugar dela, e pensei em meu próprio filho quando o fiz. E não faria melhor. M... feliz aniversário! Cuide da sua mãezinha como ela merece.

Por Socorro Melo.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

ANIVERSÁRIO DE SEVERINO - 50 ANOS

A festa de aniversário do meu irmão foi um momento ímpar. Celebrar a vida é sempre uma alegria, e celebrar 50 anos de vida é verdadeiramente uma contemplação. De quantas lembranças boas fazemos memória! De quanta gente que conviveu fraternalmente conosco nos recordamos, e sentimos a mesma emoção de quando estávamos juntos! O aniversário foi dele, mas a festa foi nossa. 
Lembro com carinho da nossa infância, dos tempos de brigas e de brincadeiras. Fico feliz que ele nos tenha dado esta oportundade de reunir a família e os amigos,para nos deleitarmos com a vida, e agradecer a Deus por tantas bênçãos derramadas. 

Aqui, com meus irmãos, companheiros pra toda vida, Peço a Deus que cuide amorosamente de cada um, guardando-os e protegendo-os do mal. Feliz aniversário, Viro! Feliz vida!

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Alguem aí?

Será que "ainda" existe alguém aí, do outro lado, que se lembra de mim?

Oi, gente! 

Há quanto tempo não me detenho por aqui. Mas, hoje me bateu uma saudade! Dos bons tempos que por aqui escrevi, recebi comentários carinhosos, e tive oportunidade de conhecer talentos inesquecíveis. Que saudades! Hoje, em virtude de tantas atividades, não me sobra tempo para curtir este mundo mágico da blogosfera.

Não vejo sentido em apenas postar os meus textos, e não ter disponibilidade para visitar os meus amigos, meus seguidores. O sabor de "blogar"  está justamente nessa troca, nessa interação.

Quero voltar, e vou voltar, se Papai do céu permitir,porém, não já. Até lá, desejo a todos os amigos que continuam escrevendo, poetando e encantando, felicidades, saúde,paz e muita inspiração.

Um grande abraço a todos!
Paz e bem!

Socorro Melo

quarta-feira, 4 de junho de 2014

VAI TER COPA!


Adoro Copas do Mundo. Quando acaba uma, fico esperando a próxima. Lembro bem de todas, da raiva de 1978, da frustração de 82 e da euforia de 94. Do timinho de 90, da perplexidade da final com a França e da alegria de 2002.
Como cidadão, como torcedor, e principalmente como servidor público envolvido diretamente no evento, não aceito este baixo astral logo quando é no Brasil.
Falam que se gastou muito dinheiro com a Copa. Mas comparado com o que?
Em 2013 foi pago de tributos no Brasil o valor de 1.702 bilhões de reais (federal, estadual e municipal). Os Estádios custaram 8 bilhões, aproximadamente 0,5% deste valor. Se dividir pelos 4 anos que levaram para ser construídos dá 0,12% por ano. A última Copa aqui foi em 1950. Será que o Brasil é tão pobre que não pode gastar este valor a cada 64 anos?
Na Copa de 50 também se reclamou do custo do Maracanã. É bom destacar que o velho Maracanã durou mais de 60 anos(!), até ser reformado. Ele se pagou ao longo do tempo. Ainda mais que não estão sendo construídos estádios de futebol, e sim Arenas multiuso, que servem para shows e inúmeros eventos.
O Brasil é o maior beneficiário das Copas do Mundo. Seu futebol projetou uma imagem positiva para o mundo e benéfica aos brasileiros. É o único país que foi a todas. Foi quem mais ganhou títulos. Foi quem mais se emocionou e se divertiu. Não pode fugir de suas responsabilidades. Não pode fingir que é um país pobre, tendo o 7º PIB do mundo. Não pode se comportar como um país “mala”, que vai a todas as festas nas casas dos outros, mas não oferece nenhuma em sua própria casa.
A Rússia gastou o equivalente a R$ 110 bilhões com os Jogos Olímpicos de Inverno, em Socchi. Evento que ocorreu em 1 cidade e sua estação de inverno, durou 15 dias e movimentou público e mídia incomparavelmente menor que uma Copa do Mundo.
Como comparação, além das despesas com as Arenas, o Brasil gastou R$ 8 bilhões com Mobilidade urbana e R$ 7 bilhões com aeroportos e portos. Obras necessárias e que ficam. O resto dos gastos é compatível com o que normalmente se gasta em eventos festivos, tais como Carnaval e Reveillon, e ainda em eventos internacionais, tipo Rio + 20 e Jornada Mundial da Juventude com o Papa.
A próxima Copa do Mundo, de 2018, será na Rússia, e a de 2022 no Catar. Ou seja, já tem 2 interessados. Será tão ruim assim realizar uma Copa do Mundo? Aliás, outra razão para a grande expectativa mundial com a Copa no Brasil, além de ser o país do futebol, é o fato das próximas Copas serem na Rússia e Catar. 9 em cada 10 terráqueos preferem vir ao Brasil do que ir para estes países.
As pessoas fazem escolhas, países também. Uns preferem fazer grandes festas: de casamento, de 15 anos, de formatura. Outros acham que não valem a pena, e preferem gastar o dinheiro em uma viagem ou comprando coisas.
Uma vez que se optou por fazer uma festa, convidar muita gente e gastar muito dinheiro, o que não tem sentido é estragá-la. É chegar o parente chato e discutir problemas de família, arrumar brigas e confusões, maltratar os convidados e acabar com a festa. Já que estamos em uma festa, já pagamos por ela, devemos celebrá-la. Problemas devem ser tratados, mas no momento oportuno.
Roupa suja se lava em casa. Receberemos mais de 20 mil jornalistas, de 180 países. Não há vantagem em discutir nossos problemas durante a Copa, com a presença da mídia estrangeira, dos turistas e governantes. Teremos tempo suficiente para isto a partir de 14 de julho até 26 de outubro. Compartilho a insatisfação com os governos. Corrupção, incompetência, etc. Mas os governos passam. Não convém misturar Copa com disputa eleitoral. A Copa é do país.
Cabe destacar que primeiro um país vende sua imagem e sua cultura, para depois vender seus produtos e serviços. As pessoas viajam ao exterior e pagam caro por um boneco de camundongo porque é o Mickey, ou numa vassoura porque é do Harry Potter.
A Copa é um evento que dá retorno. Pode ser muito ou pouco, positivo ou negativo.
A melhor opção que temos é fazer a melhor festa possível (somos bons nisso), tratar bem os turistas, mostrar o lado bom do Brasil, disfarçar a bagunça, para que o retorno da Copa seja benéfico ao povo brasileiro.

Estevão de Oliveira Júnior 

sexta-feira, 23 de maio de 2014

UM VAGÃO DESGOVERNADO


Pus-me a imaginar a vida como se fosse um trem. E me dividi em vagões. Quem sabe não organizaria e administraria melhor.
Primeira providência foi colocar Deus para dirigir o precioso trem. Todavia, vez por outra, me intrometi no trabalho dele.
Determinei um vagão para a razão, em lugar privilegiado, e busquei aparelhá-lo com todas as novidades possíveis.
Depois fui distribuindo os outros vagões entre: a espiritualidade, os sentimentos, as amizades, o trabalho, a família, o lazer, os estudos, a literatura, as relações humanas, etc. Não necessariamente nesta ordem.
E tudo foi se encaixando perfeitamente. O condutor, sempre  fidelíssimo à sua missão, respeitou consideravelmente a minha liberdade. Curioso é que mesmo sabendo-o com razão, aqui e ali resolvi ousar, ou seja, desafiá-lo, coisa que nunca deu muito certo. E por essas rebeldias paguei um preço.
O trem da minha vida quase sempre viajou tranquilo, porém, houve momentos de estremecimentos, que foram contornados sem causar grandes perdas. Alguns até, foram permitidos pelo condutor, para que eu entendesse o que representa a estrada. E eu aprendi.
Mas há um vagão, que eu confesso, nunca consegui dele o resultado esperado. E olha que coloquei nele todo meu empenho. Um vagão que parece ter vida própria, insubordinado. Um vagão desgovernado.
Comumente ouvimos dizer que há pessoas que alimentam seus pecados de estimação. Penso que não é o meu caso. Posso até alimentar errado o meu vagão, mas, não tenho por ele qualquer estimação. Como disse, parece que ele tem vida própria.
Bem, sei que não é assim. No fundo eu tenho minha participação na ineficácia desse vagão, contudo sei que está ainda bem distante a possibilidade de encarrilhá-lo e mantê-lo firme nos trilhos.
O condutor já me deu o Manual de Instruções, que não está escrito em grego ou chinês, mas, penso que ainda preciso vencer muito a cegueira espiritual para entender. Oxalá eu consiga! Ainda bem que ele não desiste de mim, mesmo sabendo o quanto turrona eu sou.

(Socorro Melo)

segunda-feira, 28 de abril de 2014

MISTÉRIO DO SER


Vento leve que balança
Ora esconde, ora desvenda
Numa ritmada dança
A misteriosa senda

O que há por trás do véu?
Que segredo tão guardado?
São os sentimentos meus...
Meus afetos, meus cuidados

Sou tão somente emoção
Lágrima, riso, grito mudo
Quando por fim me desnudo
E liberto o coração

Mas logo o véu se apressa
Em sua dança  esvoaça
A senda aberta se fecha
E a alma sutil se disfarça...

Por Socorro Melo







quinta-feira, 20 de março de 2014

LIVROS: CELEIROS DE EMOÇÕES



Comecei me encantando com as fábulas dos Irmãos Grimm, e daí foi um passo para mergulhar nas revistinhas. Investiguei o Clube do Bolinha e tempos depois dei de cara com a moedinha nº 1, na Caixa Forte do Tio Patinhas.  Os cabelos arrepiaram na caça aos fantasmas junto com a turma do Salsicha e Scooby-Doo. Sonhei horas e horas acordada, revivendo as lindas histórias de amor, dos “fotoromanzi” de Grande Hotel e Kolossal, e me via andando pelas ruas de Roma, Gênova e Veneza. Enterneci-me com a pureza de Inocência, e a suavidade da Moreninha. Confesso que ainda não estava preparada para enfrentar a realidade do Cortiço, nem o racismo desumano do Mulato e fiquei chocada, mas, Olhei os lírios do campo e recobrei novas forças. Chorei pelo desencontro de Romeu e Julieta. Questionei-me sobre o sentido da vida na Ira dos Anjos. A bordo da Operação Cavalo de Tróia 4, conheci Nazaré, e me hospedei e convivi com Maria, uma mulher de fibra. Desaprovei a Conspiração Franciscana, pois, tudo tem limite. Torci para que Hercule Poirot, desvendasse de uma vez o mistério do Expresso do Oriente, e senti-me instigada com a sagacidade de Sherlock Holmes. Indignei-me com o Crime do Padre Amaro, e com as chantagens da governanta do Primo Basílio, mas raiva maior foi ver derramado (saqueado) o sangue (riquezas) das Veias  Abertas da América Latina, e descobrir, com tristeza, a História da riqueza do homem. Impressionou-me o empreendedorismo de Mauá, o empresário do Império. Vi a melancolia e a inércia de uma família durante Cem anos de solidão. Descobri o Sétimo segredo de Irving Wallace, e deparei-me com o Símbolo perdido da Maçonaria. Li o Diário de Anne Frank e entendi o valor da esperança. Ouvi as Confissões de Santo Agostinho. Enveredei pelo Caminho de Perfeição de João da Cruz e Teresa de Ávila. Compreendi o que significa amizade pura e verdadeira no Caçador de Pipas e no Menino do pijama listrado. Conheci um pouco da verdadeira história do meu País em Casa Grande e Senzala. Senti-me amargurada ao me conscientizar da maldade humana nos versos de Navio Negreiro. Indignei-me com o Triste fim de Policarpo Quaresma. Senti horror a Mefisto (nazismo). Identifiquei-me com a História da alma de Teresa de Lisieux. Bebi da fonte do povorello, O irmão de Assis. Admirei-me com a nobreza de Lucano, São Lucas, grande Médico de homens e de almas. Abominei comportamentos dos protagonistas de o Queijo e os vermes. Enojei-me da ditadura militar, senti pela vida de Vlado Herzog e tantos outros... Vi o terror estampado nas ruas de Pompéia... Todavia, nada me impressionou mais do que a ternura, a bondade, a autoridade, a compaixão, a fraternidade, a poesia de Jesus, o filho do homem, sob a ótica de Gibran.  Enfim, procuro me conformar à Imitação de Cristo, para um dia desfrutar da Vida para além da morte. Ler é viver. 
(Socorro Melo).

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

FILOSOFANDO...


Minha alma, quase sempre, é um regato, de águas claras e serenas, que desliza suavemente no leito da vida... Mas, por vezes, se depara com barreiras, com elevações, e suas águas se turvam, embaciam... Todavia, não fica estagnada, e mesmo enlameada, procura contornar os obstáculos. É a dinâmica da minha vida. 

(Socorro Melo).


quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

O CIRCO

Quando eu entrei no Circo, já passava trinta minutos das quinze horas. O espetáculo começaria às dezesseis. Era a primeira vez que eu ia ao Circo, e estava ansiosa demais. Ganhei o ingresso na Escola, e, com a permissão de minha mãe, fui, sozinha. Meu irmão também ganhou ingresso, mas, ele se antecipou, não quis me esperar, penso que por ansiedade, para ver logo as novidades do Circo. Sentei-me nas arquibancadas superiores, na geral, no lugar mais distante do picadeiro, mas, parecia-me que estava nos primeiros lugares. O espetáculo começou, e vi, deslumbrada, os shows de contorcionistas, malabaristas, palhaços, dançarinos, trapezistas e domadores de animais, se desenrolarem em meio às luzes coloridas, ao brilho das fantasias e aplausos do público. Tudo superara minha expectativa: o Circo era bom demais. Quase perdi o fôlego, de tão angustiada que fiquei, vendo os artistas do trapézio empreendendo vôos belíssimos e ariscados, numa harmonia  incrível, arrancando ovações do público. Deduzi, sem delonga, que ser artista de Circo, não era nem de longe, a minha vocação. Fui sozinha, como disse. No tempo da minha infância, em cidades do interior, criança podia andar sozinha. Não havia sequestros, pedófilos, nem a quantidade de carros e motos, congestionando o trânsito, e tornando-o tão caótico, como hoje. A figura que mais amedrontava as crianças, era o bicho papão, o papa-figo, personagem folclórico que simbolizava o mal, pois, mesmo em escala muintíssimo menor, ele existia. O mágico, o último a se apresentar, deitou e rolou. Fiquei impressionada, por muitos dias, pensando em como ele fazia para cortar a moça ao meio, e ela sair ilesa, com tudo acontecendo diante de nossos olhos. E o atirador de facas? Sem comentários, quase tive um enfarto. Curioso é que apesar da minha pouca idade, algo me dizia que tudo não passava de mentira, e eu nem conhecia a palavra ilusão, de ilusionismo. Não sei se tudo isso deu um nó na minha cabeça, ou se foi pura coincidência, só sei que às dezoito horas, o espetáculo terminou, e saí do Circo no meio de uma multidão sorridente, por um caminho iluminado, ao som de música animada. Quando pus os pés fora do Circo, vi que já era noite. O céu estava estrelado, sem nuvens, era uma noite de verão. Tudo estava perfeito, quando me dei conta de que estava ariada. Ariada? Sim, desorientada, perdida, sem saber que rumo tomar, como voltar pra casa. Eu via as ruas, umas e outras, tão conhecidas minhas, mas, não sabia onde estava, para que lado me dirigir, e deu-me um desespero como nunca havia sentido. Nas imediações do Circo já não se via tanta gente, e aquilo aumentava o meu temor. Será que vou ter que dividir a jaula com o leão? E nada de a mente voltar à realidade. Eu estava ali, num local conhecido, mas não sabia onde estava... que coisa! Aí, de repente, aparece o meu irmão, que saía do Circo (penso que ele foi o primeiro a entrar e o último a sair), e me salvou a pátria. E pensar que eu nem comentei com ele o que acontecia. Fiz de conta que estava tudo bem e saímos juntos para casa. No íntimo eu estava agradecida a ele, por ter aparecido naquela hora tão necessária. O que achei, e ainda acho fenomenal, é que depois de andar no máximo dois metros, em companhia de meu irmão, me orientei (desariei). Interessante!

(Por Socorro Melo)

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

UMA CRIANÇA, UMA LÁGRIMA, UM LENÇO...

Saí da Escola apressada, e andei a passos largos, quase correndo, em direção à Prefeitura. Era quase meio dia. Sentia fome e calor, mas estava determinada a atingir o meu objetivo. Olhei mais uma vez para dentro da bolsa, a fim de me certificar de que a carta estava lá. Minutos depois, cruzei o limiar da porta principal, do prédio da Prefeitura, e segui em direção ao Gabinete do prefeito. Àquela hora, todos os dias, ele despachava.

A porta do Gabinete ainda estava trancada, e o rol à frente, estava repleto de gente, todos adultos. Alguns me olhavam de soslaio, como a imaginar o que eu estaria fazendo ali, num lugar de gente grande. Eu sentia meu corpo tremer, de nervosismo. Mas era preciso. E quando precisamos, dizia minha mãe, devemos ser humildes, e buscar o que queremos sem medo e sem vergonha.

A porta se abriu. O povo avançou, e por breves instantes, se fez um pequeno tumulto. Todos queriam salvaguardar um bom lugar, próximo à mesa do prefeito, para garantir atendimento rápido. Quase me atropelaram. Rodopiei no meio da confusão, mas, por fim, saí ilesa, e me juntei aos demais, bem atrás do aglomerado que se formou.

As horas passavam rapidamente. A fome aumentava. E angustiava-me saber que depois de tudo, precisava caminhar uns três quilômetros para chegar em casa, num escaldante sol de verão, bem nordestino.

O prefeito despachava junto aos adultos que, às vezes, saíam satisfeitos, outras, saíam contrariados, mas, todos eram atendidos, um por um. Era tudo muito lento, a meu ver. Por um momento pensei em desistir, sair dali correndo, ir para casa descansar, comer , mas, o senso de responsabilidade, aliado à necessidade, me obrigaram a ficar, quietinha, aguardando a minha vez.
Quando eu começava a me aproximar da mesa, achegava-se um adulto, e passava à minha frente, e eu, indefesa e humilhada, ia ficando para trás. A fome e a sede estavam me torturando, e sem querer, comecei a chorar baixinho, mas, percebendo o meu erro, sufoquei as lágrimas, e limpei os olhos com as costas das mãos.

Neste momento, num vão por entre as pessoas, o prefeito me viu, e perguntou aos presentes, de quem era aquela criança. Ninguém respondeu, apenas balançaram a cabeça negativamente. O prefeito pediu que as pessoas abrissem passagem, e me chamou para junto de si. Pediu que a secretária me trouxesse um copo d’água e com um lenço enxugou uma lágrima que teimosamente caía dos meus olhos.
Perguntou a que vim, e eu, toda trêmula, entreguei-lhe a cartinha que eu mesma tinha feito, mas que assinara como se fosse minha mãe, pedindo ajuda para comprar os livros da 5ª série.

Minha mãe me advertira que eu só iria estudar até a 4ª série, pois que não tinha condições de me manter na Escola. Apesar de ser Escola pública, o material não era doado, como nos tempos atuais. Os livros adotados eram muitos, e caros, e tornou-se um grande empecilho, e um grande desafio. Mas tanto insisti que ela me permitiu estudar por mais um ano.
Ela teve a idéia de pedir ajuda na Prefeitura, com a condição de eu mesma ir lá, entregar a sua carta, pois, na ocasião ela tinha crianças pequenas e não podia sair de casa. E eu fui, apesar de tímida, e de insegura, mas, nada era mais importante para mim, do que permanecer na escola.

O prefeito desdobrou o papel que eu lhe entregara, e leu demoradamente. A espera foi cruel. Às vezes me olhava, depois voltava os olhos para o papel, e assim sucessivamente, por minutos que pareceram eternos, dado o meu nervosismo incontrolável.

Perguntou-me, enquanto dobrava a carta, onde eu morava, e sobre meus pais, se trabalhavam, e ouviu atentamente minhas respostas, que saíam entre lágrimas. Deu-me outro lenço. Pediu-me para não chorar, e disse que atenderia o meu pedido.
Apanhou um talão em cima da mesa e pôs-se a escrever, depois destacou a folha em que escrevera e assinou, carimbou, e me disse que fosse à Livraria receber meus livros, todos eles, que eram em número de oito a nove.

Eu agradeci, e quando ia me retirando, ele me chamou de volta, e disse-me que a porta do seu Gabinete estaria sempre aberta, e que eu voltasse, sempre que precisasse. Que admirava crianças e jovens esforçados, que lutavam com afinco para garantirem seu lugar ao sol. Olhou para os presentes que estavam calados, e citou-me como exemplo. Apertei sua mão, como faziam os adultos, agradeci, e saí alegre, saltitando, sem sequer me lembrar da fome, ou do calor, e mesmo dos três quilômetros que iria andar à pé. Teria meus livros. Quanta felicidade!

Rumei para casa sorridente, levando a autorização na bolsa, como se fosse um troféu. Sim, em parte era um troféu, pois, era o resultado da minha luta interior, contra o medo, a humilhação, a timidez, o desconhecido mundo de gente grande. No outro dia, eu ficaria com as crianças, e minha mãe iria pegar os livros, todos novinhos. Parecia um sonho.


A perseverança me fez avançar, e consegui terminar meus estudos, me formar, me profissionalizar... Cresci, venci muitos desafios, tornei-me cidadã, mas, nunca me esqueci do gesto nobre do prefeito. E sempre tive por ele um grande respeito, não somente pela minha experiência, mas também pelo homem público que ele foi, honrado e cumpridor dos seus deveres, por vários mandatos consecutivos, no Legislativo e no Executivo Municipal (como hoje infelizmente não se vê). Quando adulta, tive oportunidade de agradecer-lhe pessoalmente, e o fiz com grande emoção, e percebi o quanto foi importante para ele ter esse retorno. Ele não se encontra mais neste mundo, já fez sua passagem, mas, o seu exemplo e a sua memória, são dignos de nota. Um homem de bem, um homem da luz.

(Por Socorro Melo)

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

APAIXONADA

Quando estamos apaixonados, passamos a olhar o mundo de forma diferente: Tudo é belo, tudo tem novo sentido. Quando amamos, o ser amado torna-se o centro de nossas vidas, e de nossas conversas. Nada, e nenhum assunto é mais atrativo. É por isso que vos falo tanto de Deus. 

(Socorro Melo).